"custa-me imaginar que alguém possa um dia falar melhor de Fernando Pessoa que ele mesmo. pela simples razão de que foi Pessoa quem descobriu o modo de falar de si tomando-se sempre por um outro. E como os deuses lhe concederam um olhar imparcial como a neve, o retrato que nos devolve do fundo do seu próprio espelho brilha no escuro como uma lâmina"
«Eduardo Lourenço»

Heterónimos

"Sobre qualquer destes pus um profundo conceito de vida, diverso em todos três, mas em todos gravemente atento à importância misteriosa de existir"
«Fernando Pessoa»
"Através de Campos, de Reis, de Caeiro, Pessoa exorcizou os seus medos. Representou-os para deles se livrar."
(Teresa Rita Lopes, «Pessoa por Conhecer»

(DITADO PELO POETA NO DIA DA SUA MORTE)

"É TALVEZ o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
mas não o saudei, para lhe dizer adeus.
Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada."

Ricardo Reis

"Falo nestas coisas seguramente porque nasci acreditando nos deuses, criei-me nessa crença e, querendo eles, nessa crença morrerei. Sei o que é o sentimento pagão. Só me pesa não poder explicar realmente o quão absolutamente e incompreensivelmente diverso ele é de todos os nossos sentimentos. Mesmo a nossa calma, e o vago estoicismo que entre nós alguns têm, não são coisas que parecem com a calma antiga e o estoicismo grego."
(de um inacabado prefácio de Ricardo Reis ás suas Odes)

"Ricardo Reis nasceu em Lisboa, às 11 horas da noite do dia 28 de janeiro de 1914. Foi discípulo de Alberto Caeiro, de quem adquiriu a lição de paganismo espontâneo. Há informação dando conta de que teria embarcado para o Brasil em 12 de outubro de 1919. "

                                                        

Ricardo Reis, pormenor do mural de Almada Negreiros na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1958).


Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada

"Ricardo Reis «Nada Fica»"